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quinta-feira, 22 de março de 2012

O AMOR LIBERTA?

A ARARA APAIXONADA
(Estado de Minas/Correio Braziliense-18.03.2012)

Affonso Romano de Sant’Anna

Procura-me uma jornalista para saber de minhas reações diante da seguinte estória real: uma arara Canindé, todos os dias, sai da Floresta da Tijuca, lugar onde vive, e há uns 15 anos, vôa uns cinco quilômetros, para visitar outras ararinhas que estão presas nas gaiolas do zoológico. Ela chega lá, pousa, fica um tempão conversando com suas iguais (com uma de preferência) e depois volta para sua morada lá na floresta.

Há a suspeita de que ela esteja apaixonada; que atrás das grades existe alguém que roubou o coraçãozinho da pequena ave. Surgem especulações. É macho ou fêmea? E certas aves o sexo é tão velado, que só o exame de sangue pode revelar. Já foram pedir ao veterinário que solte logo todas as ararinhas. Ele explica que não pode fazer isto, pois embora pareça carcereiro, é o guardião delas, é apenas um funcionário dessa cadeia de aves. Cadeia,vejam, até no duplo sentido: não só da gaiola onde estão, mas por estar zelando pela cadeia”genética, pela sobrevivência da espécie, posto que a ararinha é uma ave em extinção.


No Google, como sempre, encontro filmes sob ararinhas de todas as espécies e até cenas comoventes de como elas saem do ovo. É só ver, e chorar. Em mim, isto suscitou várias coisas. Primeiro me lembrei de um livro que narrava como as mais diferentes espécies animais fazem amor. Hoje a gente pode ver isto nesses canais de TV tipo “Animal Planet”. É ver, e se emocionar diante do mistério da reprodução, da vida caçando a vida, a vida casando com a vida.

Vocês se lembram que naquele filme com o Richard Gere, o cão continuava indo todos os dias à estação esperar por seu dono, apesar de o dono ja ter morrido? Me contaram de um cemitério onde há muitos cães vagando. Eles mudaram para o cemitério para ficar com os donos que morreram. Bom, da fidelidade canina, já sabíamos.


Mas outro, na TV dia vi uma coisa ao contrário: um indivíduo que foi viver com os lobos: aprendeu o código deles e com eles disputa a carne da caça. Além dessas tem ainda várias estórias e filmes, como da menina e do pai que ensinaram os gansos a voar e os guiaram em ultraleve para um lugar de migração. Outro dia, lá em São Pedro de Atacana, no Chile, vi os flamingos chegando, se acasalando e indo embora.


E as ararinhas?


A jornalista me pergunta, o que um poeta acha dessa estória. Ponho-me a pensar nessa coisa humana e animal que é a liberdade e a prisão amorosa. O que essa ararinha está nos sugerindo? Então, anoto:

Liberta-me
de minha liberdade
diz a arara Canindé
ao seu amado
preso
na gaiola do zoológico.

Aprisiona-me contigo
pois enclausurada
ao teu lado
enfim
-serei livre.


O amor aprisiona?

O amor liberta?

O melhor amor é aquele

em que a gaiola

-está aberta.




-SERVAMARA-



Eu assistir essa reportagem na Band sobre a apaixonada, solitária arara canindé, e me comovi, achei tão lindo a sua fidelidade ao seu suposto parceiro, porque todos os dias, ela voa mais ou menos uns 5 km para ver, se deliciar na companhia do seu amado; mesmo tendo uma barreira que os separa, a gaiola do zoológico...


E fiquei pensando o quanto somos pássaros tão livres, uma dádiva divina, pois temos a liberdade de ir e vir, não só fisicamente, mas o melhor, voamos em nossos pensamentos, em nossas imaginações, em nossas meditações.


Ah, e quando amamos, esses voos são muito mais abrangentes...voamos, esvoaçamos, inúmeras vezes, em volta, daquele, daquela, que despertou o amor mais sublime dentro de nós, e que nos faz romper as barreiras da distância, do idioma, da posição social e outras tantas, que ainda existe entre nós!


O amor nos engrandece, eleva, nos faz alçar voos mais altos, em busca do acasalamento dos nossos corpos, das nossas almas!


O amor prima pela verdade, pela fidelidade, ele não busca os seus próprios interesses , não é orgulhoso, não se julga dono do ser amado; sabe que o verdadeiro amor acolhe, afaga, mas ao mesmo tempo, liberta!


A gaiola sempre aberta será apenas o ninho, um pequeno espaço, pra eles se aquietarem, descansarem, trocarem juras de amor, beijinhos!


Mas o seu verdadeiro Lar não é em pairagens baixas, nem no apego aos corpos, lugares!


Que o amor entre eles é apenas um pequeno feixe de luz, diante do brilho, da grandeza do Amor Incondicional do Pai que tudo abarca, sonda...


Ele é o Único, Senhor, que nos libertará de todas as amarras, das gaiolas malignas!



Mas os que esperam no SENHOR renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão. Isaías 40:31















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